16 abril 2017

Quem Era Ela - JP Delaney

Se você mora de aluguel na sua casa ou mora numa casa que já teve moradores anteriores, você já se perguntou como eram essas pessoas e seus cotidianos? Já se perguntou o que aquelas pessoas fizeram no espaço onde você dorme e/ou come?

Sejam bem-vindos ao Catalisador e hoje vamos falar um pouco sobre o thriller psicológico Quem Era Ela, um romance que é, no máximo, bom.
É preciso responder a uma série de perguntas, passar por um criterioso processo de seleção e se comprometer a seguir inúmeras regras para morar no nº 1 da Folgate Street, uma casa linda e minimalista, obra-prima da arquitetura em Londres. Mas há um preço a se pagar para viver no lugar perfeito. Mesmo em condições tão peculiares, a casa atrai inúmeros interessados, entre eles Jane, uma mulher que, depois de uma terrível perda, busca um ponto de recomeço.  Jane é incapaz de resistir aos encantos da casa, mas pouco depois de se mudar descobre a morte trágica da inquilina anterior. Há muitos segredos por trás daquelas paredes claras e imaculadas. Com tantas regras a cumprir, tantos fatos estranhos acontecendo ao seu redor e uma sensação constante de estar sendo observada, o que parecia um ambiente tranquilo na verdade se mostra ameaçador. Enquanto tenta descobrir quem era aquela mulher que habitou o mesmo espaço que o seu, Jane vê sua vida se entrelaçar à da outra garota e sente que precisa se apressar para descobrir a verdade ou corre o risco de ter o mesmo destino.

Comentário:


Imaginar que o lugar onde você mora atualmente tem uma história (e que pode ser uma história medonha) não é algo novo a ser escrito, até porque livros/filmes sobre casas mal-assombradas têm essa mesma premissa, mas indo para o lado mais sobrenatural. Em Quem Era Ela, ficamos no plano psicológico da coisa.

O livro vai nos contar duas histórias que se passam no mesmo ambiente: a casa na Folgate Street, nº 1 – outros ambientes serão explorados, lógico, mas o mais importante é a casa. As histórias de Emma (passado) e Jane (presente) vão se misturando ao longo da narrativa, quando, além de terem alguns aspectos de seus físicos e suas personalidades semelhantes, uma começa a experienciar eventos pelas quais a outra passou, como um loop.

Emma – a garota morta –, resolve se mudar com o namorado Simon quando a casa em que eles moravam juntos foi assaltada e ela ameaçada pelos bandidos. Ao visitar a Folgate Street, Emma se impressiona com o local e o minimalismo da decoração e arquitetura, decidindo se candidatar à moradia. Simon fica fascinado pela parte tecnológica da casa, mas com um pé atrás quando o corretor começa a falar sobre as regras do local.

Mas que tipo de casa é essa para a qual você precisa se candidatar para morar? Já já falo sobre isso. Aguenta aí!
Dessa vez sou eu quem diz: Uau! É mesmo espetacular. Janelas enormes com vista para um pequeno jardim e um muro alto de pedra permitem que a luz inunde o ambiente. Não é grande, mas parece espaçoso. As paredes e os pisos são feitos da mesma pedra clara da fachada. Vãos ao longo da base das paredes passam a impressão de que elas estão flutuando. E o lugar está vazio. Mas não sem mobília: vejo uma mesa de pedra no cômodo ao lado, algumas cadeiras muito elegantes de jantar, assinadas por um designer, um sofá comprido e baixo revestido por um tecido grosso de cor creme, mas nada além disso, nada que chame a atenção.
A segunda história é a de Jane: uma mulher solteira que passou recentemente por um aborto e procura uma nova casa para morar e recomeçar sua vida. Quando ela é aceita para morar na Folgate Street, a moça se vê jogada no meio de uma história misteriosa sobre uma moça que morreu na casa onde ela agora está morando.

As duas mulheres se candidatam à vaga na Folgate Street (uma casa projetada pelo famosíssimo e controverso arquiteto Edward Monkford) e conseguem a vaga, após preencher responder um questionário (algumas perguntas são mostradas ao longo do livro, perguntas de caráter existencial/filosófico), aceitar as regras da casa e passar por uma entrevista com o dono da casa.

Como todo suspense sobre casas, não demora muito para que coisas estranhas comecem a acontecer na vida delas, envolvendo o dono da casa e a própria casa.

Quem Era Ela é um livro bastante interessante do ponto de vista psicológico. Do meu ponto de vista, o autor foi bastante eficaz em conseguir montar uma história que vai deixando o leitor perdido com a quantidade de suspeitos e informações aparentemente desconexas. É como se Delaney transpusesse o Efeito Kuleshov para as páginas de seu livro: algumas cenas ganhando novas ressignificações ao longo das descobertas.

Além disso, é quase como se estivéssemos lendo uma história sobre casa assombrada, já que a própria casa é como um personagem da obra, sempre sendo referida pelo seu endereço e não por substantivos como “casa”, “lar” ou “moradia”. O sistema operacional da casa é quase como a presença que faz os protagonistas de obras como O Iluminado, Atividade Paranormal ou A Mulher de Preto questionarem sua sanidade.
...Nenhuma luz com exceção das que já estão aqui, diz o corretor. Nada de varais. Nada de lixeiras. É proibido fumar. Nada de descansos de copo ou jogos americanos. Nada de almofadas, nada de bugigangas, nada de outros móveis...
Que loucura, diz Si. Como ele tem esse direito?
O desenvolvimento psicológico dos personagens também é um ponto forte, já que eles são bem tratados (artisticamente falando) e o peso que a Folgate Street e seus relacionamentos com Edward vão fazendo com que eles se tornem mais ariscos.

O próprio Edward é uma incógnita e o modo como ele trata Emma e Jane é a mesma coisa que Christian Grey trata Anastasia Steele na série Cinquenta Tons de Cinza.

Algo que me chamou muita atenção e é recorrente em todo o livro, é o fato de que sempre que uma das moradoras descobre ou faz algo, no capítulo seguinte, a outra também faz a mesma coisa, mas de um jeito diferente, mas dando informações a complementar o que fora mostrado anteriormente. Quase como se as duas se completassem.

É um livro bom, que vale a pena ser lido. Não mudou minha vida como Garota Exemplar, mas também não foi um completo desperdício de tempo como A Garota No Trem.

CLASSIFICAÇÃO PARA O LIVRO: 3 estrelas

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