19 outubro 2016

INFERNO (Ron Howard, 2016)

Inferno
“Abandonai toda esperança, vós que aqui entrais.”

Sejam bem-vindos ao Blog Catalisador e hoje nós vamos fazer uma viagem direto ao Inferno, para dentro de mais uma aventura do professor de simbologia, Robert Langdon, novamente interpretado por Tom Hanks, depois de 7 anos, desde a estreia de Anjos e Demônios (2009).
Florença, Itália. Robert Langdon desperta em um hospital, com um ferimento na cabeça provocado por um tiro de raspão. Bastante grogue, ele é tratado por Sienna Brooks, uma médica que o conheceu quando ainda era criança. Langdon não se lembra de absolutamente nada que lhe aconteceu nas últimas 48 horas, nem mesmo o porquê de estar em Florença. Subitamente, ele é atacado por uma mulher misteriosa e, com a ajuda de Sienna, escapa do local. Ela o leva até sua casa, onde trata de seu ferimento. Lá Langdon percebe que em seu paletó está um frasco lacrado, que apenas pode ser aberto com sua impressão digital. Nele, há um estranho artefato que dá início a uma busca incessante através do universo de Dante Alighieri, autor de "A Divina Comédia", de forma a que possa entender não apenas o que lhe aconteceu, mas também o porquê de ser perseguido.

Comentário:

A obra A Divina Comédia, do autor florentino Dante Alighieri, teve um impacto muito importante na visão que a igreja passou a admitir como sendo a do Inferno (tenha inferno como lugar de punição para todos os pecadores). Até então o inferno era visto como um poço de fogo e enxofre onde os pecadores eram atormentados pela eternidade, comandado pelo Diabo. Após Dante, o a ideia abstrata de Inferno se transformou em algo mais elaborado, organizado, psicologicamente profundo e muito mais assustador.

Com base nisso, Dan Brown (autor do livro Inferno, que serviu de material-base para esse filme) resolveu usar trechos da Divina Comédia e alguns aspectos da vida de Dante como plano de fundo para uma nova aventura de Robert Langdon. Contudo, dessa vez o autor não usa de sociedades secretas para impulsionar a história, mas um problema que é de extrema preocupação: a ideia da superpopulação mundial.

O plano de fundo humanitário das duas obras (tanto o livro quanto o filme) tem a intenção de fazer o leitor/espectador refletir sobre tal assunto, há apenas um problema: o modo como esse problema é abordado na adaptação.

Inferno
Nas quase 450 páginas da história, Brown teve tempo suficiente para apresentar o problema da superpopulação aliando a isso fatos, estatísticas, teorias e diálogos um tanto convincentes, dando uma profundidade quase empática ao pensamento do “vilão” Bertrand Zobrist (no filme interpretado pelo ator Ben Foster). São cenas e mais cenas que Dan incluiu para dar credibilidade à filosofia do personagem. Registros de palestras, discussões com a direção do OMS (Organização Mundial de Saúde), conversas informais, etc.

No filme, infelizmente, não temos isso. Apesar de ter um trecho onde Zobrist dá uma palestra sobre o assunto, logo no início do longa, as seguintes referências ao assunto só estão lá como se fossem para lembrar a quem está assistindo de que existe um problema: “Vocês se lembram daquele cara falando sobre a superpopulação, né?”. A falta de profundidade no argumento de Bertrand, os cortes de cenas importantes e relevantes (logo falarei mais sobre tais cortes e mudanças) do livro fazem com que Bertrand Zobrist, no filme, pareça um louco que só quer destruir metade da população mundial.

Característica marcante dos livros de Dan Brown são as suas aulas de história, que foram muito bem adaptados nos filmes O Código Da Vinci (2006) e Anjos e Demônios (2009), mas que aqui, por algum motivo, Ron Howard deve ter ficado com preguiça de arranjar uma solução para incluir isso no roteiro, deixando passar mais de 80% das informações interessantes que Brown incluiu no livro.
“[...] – Um dos trechos do artigo de Bertrando Zobrist que grou muito debate foi uma provocadora pergunta hipotética. Quero que você a responda.
— Qual a pergunta?
— Zobrist questionou o seguinte: se você pudesse apertar um botão e matar aleatoriamente metade da população mundial da Terra, faria isso?
— Claro que não.
— Tudo bem. Mas e se você soubesse que, se não apertasse esse botão agora, daqui a cem anos a raça humana estaria extinta? – Ela passou instantes calada. — Nesse caso, você o apertaria? Mesmo que isso talvez significasse matar amigos, parentes e até a si mesmo?”
Como uma adaptação, o filme não funciona nem que quisesse. Apesar de Inferno não ser o melhor livro de Dan Brown, não é o pior – apesar de ter um final mais que decepcionante, apressado e com atitudes intragáveis por parte de uma personagem. O filme cortou inúmeras cenas de grande relevância para o desenvolvimento e aprofundamento da história e dos personagens (principalmente da acompanhante de Robert, a dra. Sinenna Brooks – que no longa é uma personagem sem carisma algum –, interpretada pela incrível Felicty Jones) além de mudar informações por razão nenhuma.

Mas o filme não é só falta e corte! Tenho que falar sobre o belíssimo modo que encontraram para adaptar os horrores dos círculos infernais e suas punições, além das alucinações de Langdon. As cenas do Malebolge e de cerca trova são as mais bonitas de ser ver e não se parecem nem um pouco com as descrições do livro, no bom sentido.

Talvez, botar várias punições infernais num único lugar moderno, utilizando de uma paleta de cores fortes e amarelada, sirva tanto para dar o ar infernal, quanto para fazer referência à superpopulação.

Inferno
A história do filme deveria deixar a dúvida de quem é o verdadeiro “vilão”: seria Zobrist por querer matar metade da população mundial, seria o Consórcio por ter feito Zobrist desaparecer por dois anos e ter tido tempo de construir sua Peste Negra, ou seria a própria OMS por não utilizar medidas mais eficientes para essa problemática? Porém, o que nos é dado é uma narração clichê, sem desenvolvimento, do típico roteiro “Bem versus Mal”.

Resumindo a ópera, o filme é níveis mais decepcionante que o livro (pelo menos o livro tem um material muito mais completo e coeso), pegando uma base boa e transformando isso numa coxa de retalhos confusa, insossa, mal manejada e manchando ainda mais a imagem que as histórias de Dan Brown tem.

CLASSIFICAÇÃO: 2 estrelas

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Um comentário:

  1. Gustavo Woltmann06 fevereiro, 2017

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